Laboratório de pesquisa

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Sobre o racismo


Essa semana, nas aulas de Cidadania Cultural do Curso de Ciências do Estado da UFMG, discutiremos racismo e ações afirmativas. O que é, afinal, racismo? Como o racismo constituiu e constitui um elemento legitimador da exclusão social, política e jurídica de negros e outras minorias étnicas? É preciso esclarecer, antes de mais nada, que a palavra minoria deve ser compreendida não em termos quantitativos, mas qualitativos. Constitui uma minoria um grupo vítima de discriminação e exclusão em razão de uma condição que o grupo dominante reputa desvantajosa, inferior, repugnante, feia, anormal... Uma minoria pode ser - e o é em vários contextos - uma maioria em termos quantitativos. A mulheres, por exemplo, constituem numericamente uma maioria à qual se atribui culturalmente uma inferioridade a justificar historicamente a exclusão e a violência que sofrem, bem como sua dependência e sua menoridade, isto é, sua incapacidade para vários atos da vida, sobretudo, os jurídicos e políticos. Os negros constituem uma minoria até mesmo em alguns países da África onde, apesar de constituírem maioria numérica, estão excluídos econômica e politicamente.

Propomos, para começar, a seguinte canção para reflexão (abaixo segue a letra traduzida):



My skin is black - Minha pele é negra
My arms are long - Meus braços são longos
My hair is woolly - Meu cabelo é  "crespo"
And my back is strong - e minhas costas são fortes
Strong enough to take the pain - Fortes o suficiente para aguentar a dor
that has been inflicted again and again - que foi infligida de novo e de novo
What do they call me - Como eles me chamam?
My name is AUNT SARAH - Meu nome é tia Sara
My name is Aunt Sarah - Meu nome é tia Sara

My skin is yellow - Minha pele é amarela
And my hair is long - E meu cabelo é longo
Between two worlds - Entre dois mundos
I do belong - Eu vivo (Eu pertenço)
My father was rich and white - Meu pai era rico e branco
He forced my mother late one night - Ele forçou minha mãe certa noite
So here I am - Então, aqui estou
What do they call me - Como eles me chamam?
My name is SAFFRONIA - Meu nome é Saffronia
My name is Saffronia - Meu nome é Saffronia

My skin is tan - Minha pele é bronzeada
My hair is alright, it is fine - Meu cabelo é  ok, é bom
My hips invite you, daddy - Meus quadris te convidam,
my mouth like wine - minha boca é como vinho
Whose little girl am I? - De quem é (sou) essa garotinha?
I'm yours if you got some money to buy - Eu sou sua se você tiver algum dinheiro para me comprar
What do they call me - Como eles me chamam?
They call me SWEET THING - Eles me chamam de docinho
 
My skin is brown - Minha pele é marrom
And my manner is tough -  E meu jeito é duro
I'll kill the first mother I see - Eu vou matar o primeiro "filho da *" que eu ver
My life has been too rough, too rough - Minha vida foi dura demais, dura demais!
I'm awfully bitter these days - Eu estou terrivelmente amarga esses dias 
because the only parents I know were slaves - porque os únicos pais que conheci foram escravos
What do they call me - Como eles me chamam?
My name is PEACHES - Meu nome é Pessego
(*em inglês pessego refere-se metaforicamente ao orgão sexual feminino)

"Four Women" (Quatro Mulheres), escrita em 1966 - no auge do Movimento pelos Direitos Civis nos EUA (Civil Rights Movement), que clamavam pelo fim da segregação racial e pela igualdade (e cidadania integral) dos negros - fala de quatro esteriótipos de mulheres negras. Nina Simone (1933-2003), que esteve intensamente envolvida no Movimento pelos Direitos Civis, tendo cantado no funeral de Martin Luther King, chegou a ser perseguida e criticada por seu ativismo. Quando jovem, apesar do reconhecido talento como pianista de música clássica, fora recusada em um conservatório de música da Filadélfia por ser negra. Em outra canção, "She would Know", ela diz: "Ela não conhece a sua beleza/Ela pensa que seu corpo marrom não tem nenhuma gloria" ("She does not know her beauty/She thinks her brown body has no glory"). E aqui, propomos uma meditação sobre o racismo silencioso, simbólico - provavelmente o mais perverso aspecto do racismo -, o racismo que não só inferioriza, mas que convence a sua vítima de sua inferioridade, de sua indignidade, de sua incapacidade de beleza, de poder, de glória...

Seguem dois pequenos vídeos de uma pesquisa realizada com criança nos EUA e no México revaladores do racismo irrefletido, profundamente introjetado nas mentalidades:



 

 


Por fim, propomos as seguintes questões para reflexão:

1) Nós brasileiros somos racistas?
2) Para além das violências simbólicas e das violências concretas sofridas por negros ao longo da história, quais foram (ou são) as consequências sociais, políticas e jurídicas do racismo?
3) O racismo constitui um empecilho para a cidadania? Como e porquê? 

Deixamos, ainda, a sugestão de um interessante documentário da BBC sobre racismo científico, darwnismo social e eugenia:



Sinta-se convidado a participar dos debates, deixando seus comentários aqui.

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